sábado, 21 de novembro de 2015

Variabilidade social da língua: Um estudo sociolinguistico

Com base no conceito de Sociolinguística, apresentado no texto I, e no diálogo (texto II), podemos traçar uma análise do uso linguístico concreto dos falantes 1 e 2.

Texto I
A Sociolinguística, ou sociologia da linguagem, é uma disciplina da linguística que estuda os aspectos resultantes da relação entre a língua e a sociedade, concentrando-se em especial na variabilidade social da língua.
Disponível em <http://www.infopedia.pt/$sociolinguistica-(linguistica)>. Acesso em 25 mai. 2012

Texto II
Homem 1: Os homi estão doido...
Homem 2: Pru quê?
Homem 1: Andaru fazenu coisas besta cum dinhero do povo. Fizeru lambança. Homem 2: E nóis só padece, cumpadi.

Desde a expansão romana, o processo de formação da Língua Portuguesa resultou em muitas de transformações fonéticas. Hoje, através dos estudos linguísticos as inúmeras supressões, acréscimos, trocas e permutas fonéticas são estudadas pela Sociolinguística não como uma deficiência do falante e sim, como uma marca de nível cultural que identifica situações sociais de comunicação.

Em todas as línguas naturais do mundo ocorrem variações lexicais e fonéticas. Estabelecido um código oficial para comunicação, por menor que seja um território, nenhuma língua é falada da mesma forma por todos os falantes devido a fatores externos a gramática normativa sejam eles regionais, sociais ou por forte influência de outras línguas.

Os traços linguísticos dos falantes 1 e 2 representam uma fala típica da zona rural, onde possivelmente, não houve acesso aos estudos formais da norma padrão durante seu estágio de desenvolvimento escolar. Entretanto, apesar das alterações fonéticas e erros de concordância verbal, estes falantes formam frases inteligíveis o que demonstra conhecimento da estrutura de comunicação da Língua Portuguesa.

Todos os falantes possuem uma gramática internalizada e obedecem inconscientemente as regras do sistema linguístico de sua comunidade. Em seus estudos sobre a Gramática Gerativista o linguista Noam Chomsky fala da capacidade inata do ser humano na aquisição de linguagem. Teoria que corrobora para a conscientização que todo falante nascido em território onde a língua oficial é o Português sabe falar essa língua, independente de dominar a gramática normativa ou não nos vários níveis de interação social, sejam formais ou informais. 

Por essa perspectiva, os estudos sociolinguísticos auxiliam não somente como ferramenta imprescindível para o ensino da língua como também, para estudar as relações sincrônicas e diacrônicas da língua com a sociedade e como as relações sociais, culturais e econômicas são construídas pelo comportamento linguístico de determinada comunidade.

As alterações fonéticas apresentadas no Texto II são estudadas no campo dos Metaplasmos onde representam alterações de valor expressivo no ato de comunicação. Didaticamente, podemos considerar:

1. Apócope
Quando há queda ou supressão de fonemas ocorre a apócope e, neste caso, a palavra pode perder um ou mais fonemas no final. Esse fenômeno linguístico é muito comum nos gerúndios: chovendo è chuvenu; cantando è cantanu; fazendo è fazenu.

Homem 1: Andaru fazenu coisas besta cum dinhero do povo. Fizeru lambança.

Outro detalhe importante a ser considerado é a palavra “lambança” utilizada pelo falante. Este termo demonstra uma conversa informal visto que significa “comer algo e se lambuzar”, “comer e se sujar”. Em um contexto mais conservador, o termo mais apropriado seria “confusão”, “desordem”.

Homem 1: Andaru fazenu coisas besta cum dinhero do povo. Fizeru lambança.

2. Assimilação
Este metaplasmo ocorre quando temos a substituição de uma vogal por outra, como a fonema “o” pelo “u” como em compadre è cumpadi e com è cum.

Homem 1: Andaru fazenu coisas besta cum dinhero do povo. Fizeru lambança.
Homem 2: E nóis só padece, cumpadi.

3. Desnasalização 
A desnasalização consiste na troca de um fonema nasal para oral. Ocorre no português brasileiro com frequência, principalmente nos ditongos nasais e átonos finais, como em fizeram è fizeru, homem è homi e andaram è andaru.

Homem 1: Os homi estão doido...
Homem 1: Andaru fazenu coisas besta cum dinhero do povo. Fizeru lambança.

Com relação a concordância verbal, o sujeito sendo simples concordará com verbo em número e pessoa, o que não ocorre no exemplo do falante mas, não interfere no entendimento da mensagem pelos demais ouvintes devido a gramaticalidade da sentença.


Homem 1: Os homi estão doido... / Os         homens                  estão
                                                                      3ª p. Plural            3ª p. Plural

4. Epêntese
A Epêntese ocorre quando há inserção de uma fonema, uma vogal, no meio da palavra como em arroz  è arroiz e na palavra nós  è nóis.

Homem 2: E nóis só padece, cumpadi.

5. Metátese
A Metátese ocorre quando há o deslocamento do fonema na mesma sílaba como no caso da palavra dormir è drumi e por quê è pru quê.

Homem 2: Pru quê?

6. Redução do Ditongo 
A redução do ditongo, fenômeno também conhecido como a monotongação é muito comum no português brasileiro. Consiste no apagamento da vogal nos ditongos crescentes ou decrescentes como na palavra roupa è ropa e como na frase abaixo, a palavra dinheiro è dinhero.

Homem 1: Andaru fazenu coisas besta cum dinhero do povo. Fizeru lambança.

7. Síncope
A síncope é um metaplasmo que ocorre por supressão de fonemas ou desaparecem um ou mais fonemas do interior ou no meio de uma palavra como em bêbado è bebo; cócegas è coscas; padrinho è padinho; compadre è cumpadi.

Homem 2: E nóis só padece, cumpadi.


Referências Bibliográficas

CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Rio de Jeniro: Lexikon, 2013.

NININ, Maria Otilia Guimarães. Semântica e Pragmática. São Paulo: Editora Sol, 2011

PACHECO, Siomara Ferrite Pereira. Linguística Geral. São Paulo: Editora Sol, 2011

A variação fonológica: Metaplasmo em tiras de HQs. Disponível em <http://www.uenp.edu.br/trabalhos/cj/anais/soLetras2010/ana%20Gabriela%20caldeira.pdf> Acesso em 21/09/2015 às 11:55h

Metaplasmos contemporâneos – Um estudo acerca das atuais transformações fonéticas da Língua Portuguesa. Disponível em <http://www.filologia.org.br/cluerjsg/anais/ii/completos/comunicacoes/isabellelinsleite.pdf> Acesso em 21/09/2015 às 09:28h 

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