segunda-feira, 2 de novembro de 2015

O Cão dos Baskerville

Redundantemente, um história “escrita” para ser “lida” e não contada

O Cão dos Baskerville
Em O Cão dos Baskerville o detetive Sherlock Holmes e seu amigo Dr. Watson investigam mais um denso e misterioso caso de assassinato. Neste, como em muitos livros da riquíssima obra de Sir Arthur Doyle, a questão da verossimilhança interna é extremamente trabalhada capítulo a capítulo. O cão aqui mencionado é descrito nas primeiras páginas como a besta de tamanho descomunal e feroz que há muitas gerações tem atormentado o clã da abastada família de Lordes Baskerville. 

A riqueza de detalhes minuciosos das ruas, casas, estradas, características físicas e psicológicas além dos diálogos rápidos envolvem o imaginário do leitor e a cada página nos sentimos ao lado do Dr. Watson tentando em meio a um grande lamaçal desvendar o mistério por trás da suposta maldição que paira na mansão. Como em um jogo de cara e coroa, ao cair no chão um dos lados da moeda pode prevalecer perante as convicções dos personagens envolvidos: será realmente algo espiritual, impalpável,  além da compreensão humana os ruivos aterradores  que se ouvem  a noite na região da charneca ou um plano de assassinato muito bem elaborado por alguém de carne e osso? Maldição ou não, qual seria o motivo: ódio, vingança, reparação? O que desencadearia todo o cenário de perseguição da besta soturna? 

Dos 15 Capítulos, os 3 últimos merecem especial atenção do leitor pois é feita uma retrospectiva dos fatos desde os menores e iniciais para a conclusão da história nas últimas páginas. Apesar de leitura atenta, ao chegar ao Capítulo 13 “A rede se fecha” precisei retomar alguns elementos de capítulos anteriores justamente para conseguir junto com o Dr. Watson fechar a tal rede de intrigas. O cão dos Baskerville é  uma história  “escrita” para ser “lida” e redundâncias a parte, digo isso pois ela não foi criada para ser “contada”. É uma leitura muito prazerosa e apenas contar mais essa aventura de Holmes em 5 minutos, muito resumidamente o que considero extremamente difícil, não faria jus a obra e nem a fome de conhecimento dos futuros leitores que perderiam muito em detalhes e envolvimento com os personagens. 

Sherlock Holmes não apenas marcou a era do Romance Policial Britânico mas transcendeu períodos literários, foi contado e recontado através de culturas e línguas distintas e vive no imaginário da humanidade até hoje. Desde de peças, passando por filmes e séries de TV inglesas e não inglesas, as histórias de Doyle venceram distâncias. Neste contexto, podemos dizer que é exatamente disso que trata-se a literatura, uma arte estritamente ligada à sociedade de sua origem  mas que através das palavras transfere conhecimentos além das fronteiras físicas e culturais.


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