O Cão dos Baskerville |
Em O Cão dos Baskerville o detetive Sherlock Holmes e seu amigo Dr. Watson
investigam mais um denso e misterioso caso de assassinato. Neste, como em
muitos livros da riquíssima obra de Sir Arthur Doyle, a questão da verossimilhança
interna é extremamente trabalhada capítulo a capítulo. O cão aqui mencionado é
descrito nas primeiras páginas como a besta de tamanho descomunal e feroz que
há muitas gerações tem atormentado o clã da abastada família de Lordes
Baskerville.
A riqueza de detalhes minuciosos das ruas, casas, estradas,
características físicas e psicológicas além dos diálogos rápidos envolvem o
imaginário do leitor e a cada página nos sentimos ao lado do Dr. Watson
tentando em meio a um grande lamaçal desvendar o mistério por trás da suposta
maldição que paira na mansão. Como em um jogo de cara e coroa, ao cair no chão
um dos lados da moeda pode prevalecer perante as convicções dos personagens
envolvidos: será realmente algo espiritual, impalpável, além da compreensão humana os ruivos
aterradores que se ouvem a noite na região da charneca ou um plano de
assassinato muito bem elaborado por alguém de carne e osso? Maldição ou não,
qual seria o motivo: ódio, vingança, reparação? O que desencadearia todo o cenário de
perseguição da besta soturna?
Dos 15 Capítulos, os 3 últimos merecem
especial atenção do leitor pois é feita uma retrospectiva dos fatos desde os
menores e iniciais para a conclusão da história nas últimas páginas. Apesar de
leitura atenta, ao chegar ao Capítulo 13 “A rede se fecha” precisei retomar
alguns elementos de capítulos anteriores justamente para conseguir junto com o
Dr. Watson fechar a tal rede de intrigas. O cão dos Baskerville é uma história
“escrita” para ser “lida” e redundâncias a parte, digo isso pois ela não
foi criada para ser “contada”. É uma leitura muito prazerosa e apenas contar
mais essa aventura de Holmes em 5 minutos, muito resumidamente o que considero
extremamente difícil, não faria jus a obra e nem a fome de conhecimento dos
futuros leitores que perderiam muito em detalhes e envolvimento com os
personagens.
Sherlock Holmes não apenas marcou a era do Romance Policial
Britânico mas transcendeu períodos literários, foi contado e recontado através
de culturas e línguas distintas e vive no imaginário da humanidade até hoje.
Desde de peças, passando por filmes e séries de TV inglesas e não inglesas, as
histórias de Doyle venceram distâncias. Neste contexto, podemos dizer que é exatamente
disso que trata-se a literatura, uma arte estritamente ligada à sociedade de
sua origem mas que através das palavras transfere
conhecimentos além das fronteiras físicas e culturais.
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