Segundo o notório estudioso Antônio Cândido, a literatura deveria constar nos
direitos humanos, pois é um bem incompreensível e, como tal, se constitui em uma
necessidade universal. Mas afinal, em que a leitura de um texto
literário contribui para o desenvolvimento humano?
O papel do texto literário para toda a sociedade que produza e, seja fruto da ação do
homem através da arte, é a expressão dos anseios de cada civilização na qual ele é
escrito. Um povo pode ser definido por suas obras que contextualizam em maior ou
menor grau a realidade do meio social em busca de interferir na conduta do leitor,
em sua visão de mundo ou reforçar idéias e valores sociais.
Neste contexto, os fatores socioculturais são determinantes para a produção
literária, seja uma narrativa, drama ou um romance. Eles podem ser inúmeros, de
ordem moral, política ou religiosa, mas independentes da motivação do texto, a
ideologia reflete a posição social do autor ou dos leitores que deseja atingir com
suas idéias. Durante o processo de concepção literária, o autor é influênciado pelos
padrões de sua época, seja na escolha dos temas (amor, guerra, morte) quanto ao
estilo da escrita (metáforas, figuras de linguagem, denotação). O resultado final atua
sobre os leitores.
A literatura não é somente uma das muitas formas de produção cultural, mas
também representa o Espírito Humano. Ela é tão inerente à formação do caráter e
pensamento do homem que suas palavras podem tanto propagar idéias inovadoras
quanto instigar guerras e perseguições. Há casos na história cujas palavras que não
poderam ser cessadas, foram contidas. Durante a Inquisição, mais de quatro mil
livros de conteúdo científico e filosófico foram censurados pela Igreja Católica devido
ao seu conteúdo considerado “herege”, “imoral” e de “desvio político”. Grandes
autores como Victor Hugo foram considerados “agentes contra a fé e os costumes”. Em sua obra mais aclamada, o francês Victor Hugo fala sobre injustiça e ética em
uma França as portas da revolução.
Em “Os Miseráveis”, na figura do atormentado
personagem Jean Valjean, o povo francês esquecido e abandonado sobrevive a uma pobreza miserável imposta por grandes atos de crueldade, mas também,
encontra redenção em gestos extremos de misericórdia. Cada personagem
representa uma figura da sociedade francesa do século XIX, do sem teto ao
comerciante, da freira a prostituta, do prisoneiro ao agente da lei. Extremamente
popular entre as massas, os temas abordados como trabalho e consumo, entraram
na pauta de votação na Assembléia Nacional Francesa. A obra de Victor Hugo não
só foi bem recebida pelo público em geral, mas mudou totalmente a forma de se
escrever romances na Europa, influenciando além mar autores brasileiros como
Castro Alves.
Tais fatores demonstram que a evolução do homem, como “ser humano” que é
capaz de produzir cultura, não se trata somente de fatores biológicos e instintivos. A
literatura é a maior fonte de conhecimento da humanidade, de seu passado, sua
cultura, seus erros e sobre ela mesma. Uma sociedade que impeça o acesso à
produção literária, ou simplesmente não o faça, não terá igualdade e justiça social. A
literatura expressa o subconsciente do homem e, o texto, ganha forma apenas
quando é analisado e questionado pelo consciente do leitor, no processo de
produção de sentido.
Referências Bibliográficas
CANDIDO, Antônio. Literatura e Sociedade. 9a ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre azul,
2006
HUGO, Victor. Os Miseráveis. 3a ed. São Paulo: Scipione, 2011
Index – Lista dos livros proibidos pela igreja católica. Disponível em
<http://www.estudopratico.com.br/index-lista-dos-livros-proibidos-pela-igreja-
catolica/> Acesso em 22/03/2014 às 16:01h
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Para enriquecimento de seu arcabouço literário, recomendo a leitura de duas obras do Professor Antonio Cândido, ambas publicadas pela Editora Ouro sobre Azul. Em Literatura e Sociedade, encontramos uma análise crítica da produção literária e a vida social. A segunda parte do livro fala sobre as idéias do período colonial e a cultura de 1900 a 1945; Formação da Literatura Brasileira aborda os fatores mais relevantes na formação da Literatura Brasileira como as condições do meio e o nativismo. Seria a Literatura Brasileira apenas um galho da Portuguesa? Boa leitura!
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