A relação entre “conteúdo e expressão” em um texto não verbal, em termos do percurso do olhar
*** Pesquisa realizada em Outubro de 2014 - 4o Semestre ***
Ao tentar definir um conceito fechado para o termo
“texto”, nos deparamos com uma ampla gama de possibilidades interpretativas. Um
texto representa uma manifestação linguística e não está atrelado somente a
forma escrita, onde a ação da leitura implica a descodificação de códigos
linguísticos de uma determinada língua através de elementos morfológicos e
sintáticos.
O texto, como qualquer manifestação cultural,
possui função sociocomunicativa e representa a língua em uso durante o processo
de interação social. Esse processo pode ser caracterizado na forma escrita ou
falada (textos verbais) ou por representação visual seja por gestos ou imagens
(textos não verbais). Independente de sua manifestação, o texto verbal e o
não-verbal expressam em sua estrutura uma relação íntima entre o plano do conteúdo
e o plano da expressão.
Primeiramente, o plano de conteúdo refere-se ao
tema que será abordado ou representado e seu enfoque pode ser diverso com a
tematização do amor, do ódio, da vida, da
nudez feminina, do trabalho escravo, da pobreza e de qualquer outro assunto que
concerne aos anseios do imaginário humano. Com base na delimitação do assunto,
o plano da expressão revela a forma como o conteúdo é veiculado no que diz
respeito ao seu ritmo, profundidade e signos linguísticos.
Na interpretação de textos não verbais como as
artes, a pintura, a escultura e a fotografia, uma maior sensibilidade do leitor
é necessária pois seus signos não são representados por meio de palavras e sim pela
combinação de vários elementos que transmitem idéias comunicativas por meio de cores, formas,
gestos e, assim como a leitura verbal, exigem diferentes graus de leitura e compreensão.
No plano de conteúdo, uma das representações
mentais mais exploradas no imaginário humano expõe a idéia da morte, seja o
durante ou o depois. De forma conceitual, a morte trata-se de um processo
irreversível onde o sistema biológico de um ser vivo encerra suas atividades e
não mais vive. No plano da expressão a “morte” pode ser sinônimo de fim,
desesperança ou o início de uma vida eterna.
FIGURA 1 |
Na figura acima (Figura 1) o conteúdo “Morte” é
expresso com cores claras que denotam iluminação. O branco, o verde e o amarelo
são cores que harmonizam o suposto rito de passagem da vida terrena (veja como
o corpo da mulher aqui representada está translúcido em meio a paisagem próximo
ao que parece uma estrada) para um mundo superior. Para alguns povos antigos,
as árvores são um símbolo de evolução e desenvolvimento pois suas raízes estão
constantemente se aprofundando no solo. A cor branca transmite pureza e calma e
implica a mensagem de que não há nada a temer. A cor verde é sinônimo de
esperança e passa a mensagem de que a morte “não é o fim” enquanto a cor
amarela desperta os sentidos e transmite calor (seja físico ou emocional).
FIGURA 2 |
Agora expressa de uma maneira antagônica a
primeira imagem, a temática da morte na “Figura 2” mostra a cor branca,
anteriormente sinônimo de luz e leveza, como referência de frieza e palidez. Na
figura podemos identificar tanto o fim da vida humana como do ambiente que nos
cerca. A árvore ao centro é um símbolo da mortandade: não há folhas, seus
galhos estão secos, sua imagem parece estar se retorcendo em meio ao vazio
silencioso. Somos rodeados com um profundo pesar e lamentação devido a cor
cinza que nos transmite a idéia de falta de vida devido ao descoramento que
contamina o solo e se estende até o céu. Como não há a presença de cores
quentes e vivas, ao olhar a imagem sentimos uma falta de energia de forma esgotadora
que transmite desesperança e uma representação do fim.
Ainda no plano do conteúdo, outra imagem que habita
o imaginário humano é a figura do Dragão Medieval. Nas lendas européias esse
ser fantástico é descrito como um lagarto de tamanho descomunal, com asas que
criam furacões, fome insaciável, desejo de destruição voraz e capacidade de
cuspir bolas de fogo vindas das “profundezas do inferno”. Seja como símbolo
demoníaco, de força ou de coragem, ao longo dos anos o Dragão já foi recriado em cartoons, filmes e em séries
televisivas de grande sucesso.
FIGURA 3 |
Na imagem em destaque (Figura 3) temos uma cena de
fúria e desolação. Os tons carregados de preto nas extremidades passam a idéia de
terror e morte e a fumaça cinza que sobe ao céu cria a sensação claustrofóbica de
que não há escapatória ou lugar seguro para se proteger. O caos criado atribui
poder incontrolável a criatura aqui retratada: o Dragão se posiciona de forma
feroz e agressiva, suas garras parecem grandes navalhas, suas escamas (no mesmo
tom das rochas) são duras e sólidas; envolto nas cores vermelha e amarela que,
além de significarem perigo, representam a violência iminente pois o Dragão
está pronto para o ataque, olha para o horizonte com foco e determinação. Somos
envolvidos nos mais profundos sentimentos de medo e confusão devido a
corpulência inimaginável da criatura e a medida que percebemos que o perigo
possui a tendência de aumentar: há outros dragões ao redor na paisagem como uma
legião ao fundo.
FIGURA 4 |
Na “Figura 4”, o ser mitológico antes retratado
como feroz e sanguinário, agora é amigo e companheiro. Nesta imagem, o Dragão
não está cercado de outros seres ameaçadores e sim com seres humanos (uma
mulher e uma criança) que são imagem da fragilidade neste contexto. O ambiente
é claro e iluminado, a cor amarela traz descontração e a cor verde, tanto na floresta
ao fundo quanto no próprio Dragão, transmite segurança que os personagens
sentem ao estar perto da criatura. Apesar da cor rosa ser sinônimo de romantismo,
nas extremidades do Dragão transmite a idéia de carinho para com o próximo. Os
traços físicos da criatura são humanizados: mãos e dedos arredondados
proporcionais ao corpo ao invés de grandes garras com unhas afiadas de
aparência cruel; globo ocular branco, cristalino preto, pálpebras e cílios;
pele a mostra ao invés de escamas; não somente o ouvido mas também possui
orelhas. A fisionomia exprime um sorriso que é a manifestação de um sentimento
de contentamento.
Conforme apresentado, a análise produtiva de um
texto não verbal exige um olhar mais apurado do leitor para que a interação entre
o plano de conteúdo e o plano da expressão ocorra dentro da relação
autor-texto-leitor. A descodificação desse código linguístico, assim como na
linguagem verbal, exige uma ativação de conhecimentos prévios do leitor sejam
históricos, culturais ou sociais para que novas possibilidades de entendimento
do texto não verbal como elemento no discurso sociocomunicativo sejam
possíveis.
Figuras e Ilustrações
FIGURA 1
allan_kardec_temor_da_morte.JPG. Disponível em < http://www.institutoandreluiz.org/temor_da_morte.html> Acesso em
20/09/2014 às 10:01h
FIGURA 2
cemiterio.jpg. Disponível
em <http://www.ajesus.com.br/mensagens/surpreendido.html> Acesso em
20/09/2014 às 11:37h
FIGURA 3
dragao-fogo-4-5.jpg.
Disponível em < http://www.fundoswiki.com/fantasia/fundos-dragoes>
Acesso em 20/09/2014 às 12:10h
FIGURA 4
MeuAmigoDragao.jpg. Disponível em <http://www.planetadisney.com.br/meu-amigo-o-dragao-classico-disney-deve-ganhar-remake/>
Acesso em 20/09/2014 às 12:15h
Referências Bibliográficas
SILVA, Ana Lúcia Machado da. Letras
Interdisciplinar. São Paulo: Editora Sol, 2011
Morte – Wikipédia, a enciclopédia livre. Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Morte> Acesso em
20/09/2014 às 12:31h
Significado das cores. Disponível em <http://www.significadodascores.com.br> Acesso em 20/09/2014 às 12:41h
Texto – InfoEscola. Disponivel em <http://www.infoescola.com/linguistica/texto/>
Disponível em 21/09/2014 às 11:20h
Dragão – Wikipédia, a
enciclopédia livre. Disponível em
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Dragão> Acesso em 21/09/2014 às 14:08h
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