domingo, 25 de outubro de 2015

A relação entre “conteúdo e expressão” em um texto não verbal, em termos do percurso do olhar

*** Pesquisa realizada em Outubro de 2014 - 4Semestre ***

Ao tentar definir um conceito fechado para o termo “texto”, nos deparamos com uma ampla gama de possibilidades interpretativas. Um texto representa uma manifestação linguística e não está atrelado somente a forma escrita, onde a ação da leitura implica a descodificação de códigos linguísticos de uma determinada língua através de elementos morfológicos e sintáticos.

O texto, como qualquer manifestação cultural, possui função sociocomunicativa e representa a língua em uso durante o processo de interação social. Esse processo pode ser caracterizado na forma escrita ou falada (textos verbais) ou por representação visual seja por gestos ou imagens (textos não verbais). Independente de sua manifestação, o texto verbal e o não-verbal expressam em sua estrutura uma relação íntima entre o plano do conteúdo e o plano da expressão.

Primeiramente, o plano de conteúdo refere-se ao tema que será abordado ou representado e seu enfoque pode ser diverso com a tematização  do amor, do ódio, da vida, da nudez feminina, do trabalho escravo, da pobreza e de qualquer outro assunto que concerne aos anseios do imaginário humano. Com base na delimitação do assunto, o plano da expressão revela a forma como o conteúdo é veiculado no que diz respeito ao seu ritmo, profundidade e signos linguísticos. 

Na interpretação de textos não verbais como as artes, a pintura, a escultura e a fotografia, uma maior sensibilidade do leitor é necessária pois seus signos não são representados por meio de palavras e sim pela combinação de vários elementos que transmitem idéias comunicativas por meio de cores, formas, gestos e, assim como a leitura verbal, exigem diferentes graus de leitura e compreensão.


No plano de conteúdo, uma das representações mentais mais exploradas no imaginário humano expõe a idéia da morte, seja o durante ou o depois. De forma conceitual, a morte trata-se de um processo irreversível onde o sistema biológico de um ser vivo encerra suas atividades e não mais vive. No plano da expressão a “morte” pode ser sinônimo de fim, desesperança ou o início de uma vida eterna.

FIGURA 1
Na figura acima (Figura 1) o conteúdo “Morte” é expresso com cores claras que denotam iluminação. O branco, o verde e o amarelo são cores que harmonizam o suposto rito de passagem da vida terrena (veja como o corpo da mulher aqui representada está translúcido em meio a paisagem próximo ao que parece uma estrada) para um mundo superior. Para alguns povos antigos, as árvores são um símbolo de evolução e desenvolvimento pois suas raízes estão constantemente se aprofundando no solo. A cor branca transmite pureza e calma e implica a mensagem de que não há nada a temer. A cor verde é sinônimo de esperança e passa a mensagem de que a morte “não é o fim” enquanto a cor amarela desperta os sentidos e transmite calor (seja físico ou emocional).

FIGURA 2

Agora expressa de uma maneira antagônica a primeira imagem, a temática da morte na “Figura 2” mostra a cor branca, anteriormente sinônimo de luz e leveza, como referência de frieza e palidez. Na figura podemos identificar tanto o fim da vida humana como do ambiente que nos cerca. A árvore ao centro é um símbolo da mortandade: não há folhas, seus galhos estão secos, sua imagem parece estar se retorcendo em meio ao vazio silencioso. Somos rodeados com um profundo pesar e lamentação devido a cor cinza que nos transmite a idéia de falta de vida devido ao descoramento que contamina o solo e se estende até o céu. Como não há a presença de cores quentes e vivas, ao olhar a imagem sentimos uma falta de energia de forma esgotadora que transmite desesperança e uma representação do fim.

Ainda no plano do conteúdo, outra imagem que habita o imaginário humano é a figura do Dragão Medieval. Nas lendas européias esse ser fantástico é descrito como um lagarto de tamanho descomunal, com asas que criam furacões, fome insaciável, desejo de destruição voraz e capacidade de cuspir bolas de fogo vindas das “profundezas do inferno”. Seja como símbolo demoníaco, de força ou de coragem, ao longo dos anos o Dragão já foi  recriado em cartoons, filmes e em séries televisivas de grande sucesso.

FIGURA 3

Na imagem em destaque (Figura 3) temos uma cena de fúria e desolação. Os tons carregados de preto nas extremidades passam a idéia de terror e morte e a fumaça cinza que sobe ao céu cria a sensação claustrofóbica de que não há escapatória ou lugar seguro para se proteger. O caos criado atribui poder incontrolável a criatura aqui retratada: o Dragão se posiciona de forma feroz e agressiva, suas garras parecem grandes navalhas, suas escamas (no mesmo tom das rochas) são duras e sólidas; envolto nas cores vermelha e amarela que, além de significarem perigo, representam a violência iminente pois o Dragão está pronto para o ataque, olha para o horizonte com foco e determinação. Somos envolvidos nos mais profundos sentimentos de medo e confusão devido a corpulência inimaginável da criatura e a medida que percebemos que o perigo possui a tendência de aumentar: há outros dragões ao redor na paisagem como uma legião ao fundo.

FIGURA 4

Na “Figura 4”, o ser mitológico antes retratado como feroz e sanguinário, agora é amigo e companheiro. Nesta imagem, o Dragão não está cercado de outros seres ameaçadores e sim com seres humanos (uma mulher e uma criança) que são imagem da fragilidade neste contexto. O ambiente é claro e iluminado, a cor amarela traz descontração e a cor verde, tanto na floresta ao fundo quanto no próprio Dragão, transmite segurança que os personagens sentem ao estar perto da criatura. Apesar da cor rosa ser sinônimo de romantismo, nas extremidades do Dragão transmite a idéia de carinho para com o próximo. Os traços físicos da criatura são humanizados: mãos e dedos arredondados proporcionais ao corpo ao invés de grandes garras com unhas afiadas de aparência cruel; globo ocular branco, cristalino preto, pálpebras e cílios; pele a mostra ao invés de escamas; não somente o ouvido mas também possui orelhas. A fisionomia exprime um sorriso que é a manifestação de um sentimento de contentamento.

Conforme apresentado, a análise produtiva de um texto não verbal exige um olhar mais apurado do leitor para que a interação entre o plano de conteúdo e o plano da expressão ocorra dentro da relação autor-texto-leitor. A descodificação desse código linguístico, assim como na linguagem verbal, exige uma ativação de conhecimentos prévios do leitor sejam históricos, culturais ou sociais para que novas possibilidades de entendimento do texto não verbal como elemento no discurso sociocomunicativo sejam possíveis.

Figuras e Ilustrações

FIGURA 1
allan_kardec_temor_da_morte.JPG. Disponível em < http://www.institutoandreluiz.org/temor_da_morte.html> Acesso em 20/09/2014 às 10:01h

FIGURA 2
cemiterio.jpg. Disponível em <http://www.ajesus.com.br/mensagens/surpreendido.html> Acesso em 20/09/2014 às 11:37h

FIGURA 3
dragao-fogo-4-5.jpg. Disponível em < http://www.fundoswiki.com/fantasia/fundos-dragoes> Acesso em 20/09/2014 às 12:10h

FIGURA 4
MeuAmigoDragao.jpg. Disponível em <http://www.planetadisney.com.br/meu-amigo-o-dragao-classico-disney-deve-ganhar-remake/> Acesso em 20/09/2014 às 12:15h
  
Referências Bibliográficas

SILVA, Ana Lúcia Machado da. Letras Interdisciplinar. São Paulo: Editora Sol, 2011

Morte – Wikipédia, a enciclopédia livre. Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Morte> Acesso em 20/09/2014 às 12:31h

Significado das cores. Disponível em <http://www.significadodascores.com.br>  Acesso em 20/09/2014 às 12:41h

Texto – InfoEscola. Disponivel em <http://www.infoescola.com/linguistica/texto/> Disponível em 21/09/2014 às 11:20h

Dragão – Wikipédia, a enciclopédia livre. Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Dragão> Acesso em 21/09/2014 às 14:08h

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