A OBRA SHAKESPEARIANA NA PERPECTIVA DE DIFERENTES SUPORTES
She's the man (2006) |
A
transposição das obras canônicas para diferentes suportes é recebido com certo
desconforto entre os críticos mais severos. No caso de Shakespeare e conforme aponta a crítica
literária Linda Hutcheon (apud Hammond, 2013), o autor é posto em um
pedestal do mais alto nível “clássico” e não pode ser reproduzido de uma forma
que não seja uma arte tão elevada quanto a literatura, entendida como a ópera e
o balé. No entanto, a reprodução das
obras em diferentes suportes midiáticos como a TV, o cinema e os quadrinhos podem
aproximá-las das massas e,
sua utilização como recurso
educacional, pode
introduzir a literatura clássica às novas gerações sem
traumas.
No intuito de desenvolver uma educação
pluralista, pensemos na peça NOITE DE REIS. Apenas a leitura
pura do texto –
são cinco atos e dezoito cenas – pode tornar-se uma atividade demorada e
enfadonha para a turma. Por isso, estabelecer um contratoponto com o filme sem deixar de lado a
obra original, pode fazer com que esses alunos identifiquem-se com as situações
ali vividas. Em “She’s the man”
(2006), a
trama é ambientada dentro de uma escola e acompanha as peripécias vividas pela
jovem Viola. Ao se passar por seu irmão gêmeo, Sebastian, ela luta para vencer
em um meio dominado por homens, no caso do filme, no time de futebol.
Viola não almeja, ao trajar-se como
homem, roubar o lugar de seu irmão e sim, ser aceita no grupo. Ao fingir ser
outra pessoa, Viola quer firmar sua identidade. Quantos jovens não agem de
maneira diferente de sua natureza ou fingem ser outras pessoas a fim de serem
aceitos? No Ato 5 – Cena 1 (uma das partes mais cômicas da
peça) a
questão da identidade individual apareça com mais força pois a verdadeira
identidade de Viola é revelada: com o retorno de Sebastian, Viola fica exposta
gerando o conflito e por fim, sua aceitação e entrada no grupo. No filme, vemos
a estudante tentando convencer seus amigos, o treinador e a torcida que
independente da farsa ela é extremamente capaz de jogar futebol e colaborar com
o time; que é possível homens e mulheres se ajudarem mutualmente deixando de
lado a guerra dos sexos.
O
crítico americano Robert Ebert (2006), destaca que a proposta do enredo não é
se a protagonista consegue encarnar um rapaz com perfeição e sim, através de um
engraçado triângulo amoroso, debater sobre os sonhos de um grupo de
adolescentes, o que eles idealizam para o futuro levando em consideração, os
planos de seus pais para quando atingirem a vida adulta. Desta forma, podemos
concluir que a literatura, fora do âmbito escrito, não deixa de ser literatura
– não fica menor, fragmentada – mas se prolifera devido ao uso das novas
ferramentas. Uma nova abordagem torna a obra mais acessível mesmo que em sua
temática original (poesia / prosa) e em sua produção original, ou seja, na
língua inglesa.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
EBERT, Roger. She’s the
Man (2006).
Disponível em <http://www.rogerebert.com/reviews/shes-the-man-2006> Acesso em 12/10/2016 às 12h01
HAMMOND, L. Do film adaptations of
Romeo and Juliet enhance
Shakespeare in contemporary society or undermine his
cultural status? Disponível em: <http://arts.brighton.ac.uk/ study/literature/brightonline/issue-number-four/do-film-adaptations-of-romeo-and-juliet-enhance-
shakespeare-in-contemporary-society-or-undermine-his-cultural-status>.
Acesso em 12/10/2016 às 10h12
PUIG, Claudia. She’s the
man is a comedy kick. Disponível em
<http://usatoday30.usatoday.com/life/movies/reviews/2006-03-16-shes-the-man_x.htm> Acesso em 12/10/2016 às 10h07
SHAKESPEARE, William. Twelfth
Night_ Entire Play. Disponível em < http://shakespeare.mit.edu/twelfth_night/full.html> Acesso em 12/10/2016 às 15h18
WIELEWICKI, V. Narrativas
multimodais e possibilidades para uma educação pluralista. In: TAKAKI, N. H.; MACIEL, R. F.
Letramentos em terra de Paulo Freire. Campinas: Pontes, 2014.
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